14 Novembro 2022
O Patriarca Ecumênico Ortodoxo fala do objetivo compartilhado com Francisco a ser alcançado 17 séculos depois do Concílio de Niceia de 325. Sobre a guerra na Ucrânia reitera: não pode haver paz sem justiça.
A reportagem é de Fausta Speranza, publicada por Vatican News, 11-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeu I recebeu ontem, na sede do Patriarcado de Istambul, o grupo de sacerdotes e jornalistas que, por iniciativa da Ópera Romana peregrinações se encontram há alguns dias na Turquia visitando os lugares sagrados nos passos de São Paulo, para relançar a experiência das peregrinações após os fechamentos devido à pandemia. No seu discurso de boas-vindas, o Patriarca dirigiu em primeiro lugar um pensamento ao Papa, "irmão" na fé, encontrado há poucos dias no Bahrein, ao mesmo tempo que enviou uma saudação afetuosa ao Presidente da República Italiana Sergio Mattarella e palavras de bons votos ao novo governo italiano e ao mundo político, acompanhadas de um estímulo para trabalhar pelo bem comum.
Bartolomeu I, em seguida, anunciou que iria ao Chipre para assistir ao funeral do arcebispo ortodoxo Crisóstomo II, que faleceu após uma longa doença em 7 de novembro, uma viagem particularmente significativa durante a qual, disse ele, se reunirá com o representante do Papa, cardeal Kurt Koch, presidente do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
O Patriarca Ecumênico falou também sobre o empenho assumido com o Papa Francisco em vista do aniversário do Concílio de Niceia, convocado pelo imperador Constantino em 325.
Sua Santidade, o que pode nos dizer sobre esse empenho comum?
O Concílio Ecumênico (de Niceia - ndr) foi muito importante para fixar o conteúdo da nossa fé cristã, mas também para fixar a data da Páscoa, como e quando deve ser celebrada. Infelizmente, não a celebramos juntos há muitos anos, há muitos séculos. Assim, no contexto deste aniversário, o objetivo dos esforços compartilhados com o Papa é de encontrar uma solução para isso. Talvez não seja agora o momento de fornecer os detalhes, mas quero enfatizar que do lado ortodoxo e do lado católico existe essa boa intenção de finalmente fixar uma data comum para a celebração da Ressurreição de Cristo. Esperamos obter um bom resultado desta vez.
E as esperanças de paz diante da guerra devastadora que atingiu a Ucrânia?
Esta guerra não pode ser justificada de forma alguma. Também falei sobre isso ultimamente enquanto estava na Inglaterra. Falei duramente, mas tive que fazê-lo em nome de nossa fé cristã e muito mais. Parece-me que todos os homens que têm uma visão correta das coisas não podem deixar de condenar esta guerra. O próprio Papa quer sensibilizar o mundo inteiro para a paz. Em uma de suas mensagens, em 1º de janeiro, há alguns anos, o Papa disse que não se pode haver paz sem justiça. E uma palavra muito correta, esta: não podemos ter paz sem justiça. Isso é sempre válido e nas minhas homilias repito essas mensagens do Papa, de todos os Papas, sobre o dia 1º de janeiro, que é o dia da oração pela paz. São mensagens muito importantes e seu conteúdo é muito sábio.
De minha parte, desejo a vocês um bom retorno e não esqueçam a Turquia, a Anatólia, onde há muitas memórias do nosso passado cristão, especialmente dos primeiros séculos do cristianismo, dos concílios ecumênicos ... Eu estava com a hierarquia católica do nosso País poucas semanas atrás em Éfeso, onde o núncio apostólico em Ancara e os bispos católicos concelebraram a missa na catedral do terceiro concílio ecumênico, ocasião em que me pediram para proferir a homilia. Remontam àquela época não só o Concílio de Calcedônia, os lugares dos Concílios Ecumênicos, Constantinopla, mas o monaquismo, a arte sacra, a teologia, os padres da Capadócia... Temos muitos lugares sagrados que de vez em quando é preciso voltar a venerar, nos quais buscar inspiração retornando nos séculos passados, nos quais rezar e conhecer melhor o povo turco, que é muito hospitaleiro. Todos os estrangeiros que vêm aqui ficam com essa impressão.
O Patriarcado Ecumênico se destaca há anos no tema de proteção ambiental. Diante dos processos de digitalização, corre-se o risco de perder a dignidade humana ao entregar a ética aos computadores. O que o senhor pensa sobre isso?
Respeitamos a ciência, respeitamos a tecnologia. O Concílio Pan-ortodoxo de Creta em 2016 disse que a ciência, a tecnologia, a pesquisa científica são uma dádiva de Deus, mas por outro lado reconhecemos que existem derivas. Colocamos no centro de tudo a pessoa humana, a dignidade da pessoa humana. Claro que nas escolas se usa muito a tecnologia digital moderna, mas esse novo método não pode substituir o antigo método de ensino baseado nos valores espirituais, na ética. Repito: no centro de tudo está a dignidade da pessoa humana, em torno da qual devemos fazer nossas escolhas, respeitando a liberdade da pessoa humana.
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Bartolomeu I: com o Papa por uma data comum da Páscoa entre católicos e ortodoxos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU